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domingo, 20 de julho de 2008

ARTIGO DE NUNO MARKL P/ OS TRINTÕES

A juventude de hoje, na faixa que vai até aos 20 anos, está perdida.

E está perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os
que hoje rondam os trinta.

O grande choque, entre outros nessa conversa, foi quando lhe falei no
Tom Sawyer.

'Quem?', perguntou ele. Quem?! Ele não sabe quem é o Tom Sawyer! Meu
Deus... Como é que ele consegue viver com ele mesmo?

A própria música: 'Tu que andas sempre descalço, Tom Sawyer, junto ao
rio a passear, Tom Sawyer, mil amigos deixarás, aqui e além...' era
para ele como o hino senegalês cantado em mandarim.



Claro que depois dessa surpresa, ocorreu-me que provavelmente ele não
conhece outros ícones da juventude de outrora.

O D'Artacão, esse herói canídeo, que estava apaixonado por uma
caniche; Sebastien et le Soleil, combatendo os terríveis Olmecs;
Galáctica, que acalentava os sonhos dos jovens, com as suas naves
triangulares; O Automan, com o seu Lamborghini que dava curvas a
noventa graus; O mítico Homem da Atlântida, com o Patrick Duffy e as
suas membranas no meio dos dedos; A Super Mulher, heroína que nos
prendia à televisão só para a ver mudar de roupa (era às
voltas,lembram-se?); O Barco do Amor, que apesar de agora reposto na
Sic Radical, não é a mesma coisa. Naquela altura era actual...

E para acabar a lista, a mais clássica de todas as séries, e que
marcou mais gente numa só geração: O Verão Azul.

Ora bem, quem não conhece o Verão Azul merece morrer. Quem não chorou
com a morte do velho Shanquete, não merece o ar que respira. Quem, meu
Deus, não sabe assobiar a música do genérico, não anda cá a fazer
nada.



Depois há toda uma série de situações pelas quais estes jovens não
passaram, o que os torna fracos:Ele nunca subiu a uma árvore!

E pior, nunca caiu de uma. É um mole.

Ele não viveu a sua infância a sonhar que um dia ia ser duplo de cinema.

Ele não se transformava num super-herói quando brincava com os amigos.

Ele não fazia guerras de cartuchos, com os canudos que roubávamos nas
obras e que depois personalizávamos.

Aliás, para ele é inconcebível que se vá a uma obra.

Ele nunca roubou chocolates no Pingo-Doce. O Bate-pé para ele é marcar
o ritmo de uma canção.

Confesso, senti-me velho...

Esta juventude de hoje está a crescer à frente de um computador.

Tudo bem, por mim estão na boa, mas é que se houver uma situação de
perigo real, em que tenham de fugir de algum sítio ou de alguma
catástrofe, eles vão ficar à toa, à procura do comando da Playstation
e a gritar pela Lara Croft.



Óbvio, nunca caíram quando eram mais novos. Nunca fizeram feridas,
nunca andaram a fazer corridas de bicicleta uns contra os outros.

Hoje, se um miúdo cai, está pelo menos dois dias no hospital, a levar
pontos e fazer exames a possíveis infecções, e depois está dois meses
em casa fazer tratamento a uma doença que lhe descobriram por ter
caído.

Doenças com nomes tipo 'Moleculum infanticus', que não existiam antigamente.

No meu tempo, se um gajo dava um malho muitas vezes chamado de 'terno'
nem via se havia sangue, e se houvesse, não era nada que um bocado de
terra espalhada por cima não estancasse.



Eu hoje já nem vejo as mães virem à rua buscar os putos pelas orelhas,
porque eles estavam a jogar à bola com os ténis novos.

Um gajo na altura aprendia a viver com o perigo.

Havia uma hipótese real de se entrar na droga, de se engravidar uma
miúda com 14 anos, de apanharmos tétano num prego enferrujado, de se
ser raptado quando se apanhava boleia para ir para a praia.

E sabíamos viver com isso. Não estamos cá? Não somos até a geração que
possivelmente atinge objectivos maiores com menos idade?

E ainda nos chamavam geração 'rasca'... Nós éramos mais a geração 'à
rasca', isso sim. Sempre à rasca de dinheiro,sempre à rasca para
passar de ano, sempre à rasca para entrar na universidade, sempre à
rasca para tirar a carta, para o pai emprestar o carro. Agora não
falta nada aos putos.

Eu, para ter um mísero Spectrum 48K, tive que pedir à família toda
para se juntar e para servir de presente de anos e Natal, tudo junto.

Hoje, ele é Playstation, PC, telemóvel, portátil, Gameboy, tudo.

Claro, pede-se a um chavalo de 14 anos para dar uma volta de bicicleta
e ele pergunta onde é que se mete a moeda, ou quantos bytes de RAM tem
aquela versão da bicicleta.

Com tanta protecção que se quis dar à juventude de hoje, só se
conseguiu que 8 em cada dez putos sejam cromos.

Antes, só havia um cromo por turma. Era o totó de óculos, que levava
porrada de todos, que não podia jogar à bola e que não tinha
namoradas.

É certo que depois veio a ser líder de algum partido, ou gerente de
alguma empresa de computadores, mas não curtiu nada.'



(Nota: ...os chocolates não eram gamados no 'Pingo Doce'... Ainda se
chamava 'Pão de Açúcar'!!!)


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