Durante um mês tentei estes métodos todas as noites, durante uma hora, ao ir dormir. Até que, finalmente, fui bem-sucedido! O primeiro indício foi, tal como o livro dizia, ficar em estado cataléptico, incapaz de mover qualquer músculo.
Tratava-se do que Muldoon e Carrington tinham classificado como o «precursor normal para a experiência». Recorri à minha força de vontade — se calhar foi imaginação minha — para me pôr a flutuar para o alto e a experiência foi francamente fascinante. Tive a sensação de estar enterrado no fundo lamacento de um rio e de a água começar a infiltrar-se aos poucos na terra, reduzindo a sua viscosidade até, a certa altura, me empurrar para cima.
Flutuei lentamente até acima, ainda em estado cataléptico, qual veículo aéreo liberto das suas amarras. Cheguei ao tecto e passei através dele, atravessando a escuridão do espaço do telhado. Continuei a subir e, depois de passar as telhas, comecei a ver o céu, as nuvens e a Lua. À medida que a minha «vontade» (ou «imaginação») aumentava, a minha velocidade de ascensão aumentava também. Conservo até hoje a lembrança do vento a assobiar-me por entre os cabelos.
Não tive a menor quebra de consciência desde o momento em que me deitei até que cheguei àquela altura do céu. A certa altura tudo se desvaneceu e dei comigo de novo na cama. Tomei imediatamente notas completas e pormenorizadas da minha experiência, recordando-me de que já lera o relato de um escritor francês chamado Yram descrevendo experiências do mesmo género sobre uma viagem pelo céu.
Reflectindo sobre o assunto, pareceu-me uma experiência sem qualquer préstimo. Qualquer pessoa sensível diria que não passou tudo de um sonho. Resolvi, portanto, que da próxima vez seria diferente. E não há dúvida de que foi!
O livro afiançava que a catalepsia desapareceria quando a projecção do corpo ultrapassasse o «raio de acção da corda», deixando, assim, o projectado livre para se movimentar. «Raio de alcance da corda» significava, segundo Muldoon, que a distância do corpo era suficientemente grande para reduzir a «corda de prata» que ligava os corpos físico e astral do indivíduo a um filamento ténue.
As «forças vitais» (sejam elas quais forem) transmitidas através do mesmo diminuiriam consideravelmente e a catalepsia desapareceria. Assim sendo, seria possível passear pela cidade, ver uma montra que até então havia passado despercebida, memorizar o conteúdo, voltar ao corpo, tomar nota de tudo e verificar cuidadosamente se a descrição condizia no dia seguinte.
Se isto resultasse, ninguém poderia voltar a afirmar que não passara tudo de um sonho, principalmente se a descrição dos objectos fosse entregue antes da verificação. E, ainda melhor, se a montra a ser «astralmente» visitada fosse previamente escolhida por outrem. Portanto, voltei a tentar.
Desta feita só precisei de três ou quatro noites para repetir a projecção. Contudo, dessa vez sustive a ascensão vertical ao chegar ao tecto e mudei de direcção. Ainda cataléptico, flutuei horizontalmente, de pés para a frente, em direcção à janela do quarto do primeiro andar. Atravessei, flutuando suavemente, o caixilho da parte superior da janela e, descrevendo uma pequena parábola, pousei no relvado. Aí, segundo as minhas expectativas, estaria fora do «alcance de actividade da corda» e o verdadeiro trabalho de reunir provas poderia então começar.
Retirado de "Contra toda a Lógica"
Orbis Publishing Limited
Círculo de Leitores
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