Não foi o que aconteceu. Ao afastar-me da janela e começar a descer em direcção ao relvado, passei por uma das experiências mais extraordinárias da minha vida. Senti duas mãos segurarem na minha cabeça, uma sobre cada ouvido, e levarem-me (ainda em estado de catalepsia) de volta ao meu quarto e ao meu corpo. Não ouvi o menor som nem vi absolutamente nada.
As experiências que descrevi tiveram lugar nos anos 50. Depois disso, já aprendi muito. Primeiro, diria que ficarmos deitados de costas na nossa cama e concentrarmo-nos em determinada ideia é uma maneira capaz de produzir um transe auto-hipnótico. Não tenho a menor dúvida de que entro em transe. Segundo, enquanto esperava consequentemente, auto sugestionando-me — que a minha experiência fosse como a descrita no livro, entrei em estado cataléptico. Creio que, se não contasse com isso, provavelmente tal não teria acontecido. Terceiro, como esperava flutuar para cima, foi o que aconteceu.
Outras pessoas que tentam este tipo de experiência com ideias diferentes sobre o que lhes acontecerá não entram em estado cataléptico e às vezes «saem do corpo» horizontalmente, pela cabeça ou de lado. Para obter esse efeito, muitas vezes basta uma fixação sobre uma questão bem definida e um transe suficientemente profundo para a pessoa se movimentar, num corpo subtil, até outras zonas do mundo físico, de perto ou à distância.
Muitas pessoas conseguem mesmo passar por uma EEC em resultado de sugestão sob hipnose. Portanto, será que elas vêem o mundo físico vulgar? Como não podem servir-se dos seus olhos físicos, é claro que a resposta será «não». Então, o que é que sentem? Tudo indicaria que aquilo por que passam é uma reconstrução dramatizada de uma lembrança do mundo físico: poderá ser alguma outra coisa?
Às vezes acontece, porém, que o mundo visto através de uma EEC não apresenta grandes parecenças com a realidade. Poderá ter adições simbólicas, tais como barras nas janelas, para evitar a fuga. Certos objectos também poderão emitir uma espécie de luminosidade. Muldoon chega mesmo a sugerir que é possível despertar, projectado, de um sonho vulgar, quando se observa uma incongruência no que está em volta — por exemplo, reparando que as pedras do pavimento não têm as arestas compridas na direcção correcta.
Um dos casos mais importantes de uma projecção «normal» para um «mundo físico em duplicado» envolveu Eileen Garrett, psíquica famosa. Esta descreveu na sua autobiografia como projectou a sua «dupla» de um quarto em Nova Iorque para um lugar na Terra Nova, a casa do médico que concebera a experiência. Ela conseguia «ver», escreveu, o mar, as flores e a casa, sentir o cheiro a maresia no ar e ouvir os pássaros. Ao entrar na casa, ainda perfeitamente consciente de que o seu corpo permanecera deitado no quarto em Nova Iorque e capaz de falar com os observadores que lá tinham ficado a assistir, viu o médico a descer as escadas e a entrar no seu gabinete.
Outra pessoa que passava regularmente por experiências de EEC foi Robert Monroe, homem de negócios americano. Uma experiência especialmente importante incluiu a sua projecção para o sítio (que não conhecia) onde estava uma mulher sua amiga, a quem encontrou a falar com duas raparigas. Descobriu que foi capaz de chamar a sua atenção e ela disse-lhe («mentalmente») que sabia da sua presença, continuando, ainda assim, a conversar. Deu-lhe um beliscão na zona da cintura, convencido de que ela não sentiria nada, mas, para sua surpresa, ouviu-a soltar um grito.
Depois da experiência, quando a mulher voltou a casa, Monroe perguntou-lhe («normalmente») o que estivera a fazer na altura da sua projecção. Ela descreveu a cena com as raparigas, porém, não se recordava minimamente da «visita» dele. Exasperado, Monroe insistiu: «Não sentiste o beliscão?» Ela, francamente surpreendida, respondeu que sim. Monroe tinha a sensação, de que, de vez em quando, se tornava, em parte ou na totalidade, «outra pessoa». É interessante notar que este relato difere dos que apresentam muitas outras pessoas que passaram por experiências deste tipo, referindo estarem conscientes tanto da forma projectada como do corpo físico em repouso, chegando mesmo, por vezes, a gerar-se discussões entre os dois.
Orbis Publishing Limited
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